Muitas mulheres que pesquisei reclamam que sentem falta do romance, da
magia e do encantamento presentes no início dos seus casamentos.
Uma atriz de 50 anos disse:
"Meu marido vive dizendo que se sacrifica muito por mim. Quando
viajamos, diz que escolhe um lugar para me agradar, que preferia ir para
outro lugar. Repete que sempre abre mão do que quer só para me deixar
feliz. Diz que não sai mais com os amigos para ficar comigo. É horrível
saber que o homem que você ama se sacrifica tanto e se sente tão
miserável".
Ela disse que o marido costumava ser muito carinhoso e romântico no início do casamento.
"Nos primeiros anos, ele me tratava como uma princesa, me dava presentes
lindos, íamos a restaurantes, cinema, shows todas as noites. Ele tinha
prazer em me deixar feliz, adorava me fazer rir. Hoje, tudo é um esforço
enorme, um verdadeiro sacrifício. Ele se tornou um martirido (uma
mistura de mártir e marido). Ele me faz sentir que sou uma merda de
mulher."
Encontrei o mesmo tipo de sentimento em muitas mulheres. Elas dizem que
são consideradas complicadas, difíceis, insatisfeitas, exigentes, e que
seus maridos afirmam que precisam fazer um trabalho exaustivo para
tentar agradá-las, sem nunca conseguir.
Uma pesquisadora de 47 anos, certa vez, disse: "Escutei tantas vezes do
meu marido que eu dou muito trabalho, que sou muito difícil, que decidi
me separar. Não quero dar trabalho para o homem que eu amo. Quero amar e
ser amada, quero que ele se sinta feliz de estar comigo, que sinta
prazer, que se divirta com a minha companhia. Não aguento mais ficar com
um homem que me critica o tempo todo, que reclama do meu jeito de ser,
que não me valoriza e não me elogia, que me compara com outras mulheres
mais leves e fáceis de conviver".
O mais difícil é compreender em que momento o casamento perde o encanto e
se torna um fardo tão pesado para os dois, como contou uma professora
de 43 anos:
"Quando ele parou de me dar beijo na boca, deixou de me admirar e passou
a enxergar só o pior de mim, senti que o meu casamento tinha terminado.
Eu não quero ter de mendigar o amor, o respeito e a admiração do homem
que eu amo. Eu mereço ter um homem que se sinta um felizardo por me amar
e ser amado por mim, não mereço?"
Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento,
casamento e infidelidade' (Ed. Record). Escreve às terças, a cada 15
dias.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2014/12/1556297-como-perder-um-grande-amor.shtml