quinta-feira, 10 de junho de 2010

Eu fiz esta leitura... compartilho com vcs!!!


homossexualidade, identidade e papel de gênero
Por João Pedrosa

O interesse sobre sexo e sexualidade sempre esteve presente ao longo da história da humanidade. Uma variedade enorme de obras de arte eróticas da Antiguidade e desenhos pré-históricos em cavernas retratam homens e mulheres. A ênfase de muitos desenhos são os órgãos genitais, principalmente o pênis. O pênis era idolatrado como o símbolo da fertilidade e do poder por inúmeras culturas.


O estudo da sexualidade é encontrado desde a Idade Antiga, nos escritos de Platão. Ele ressaltou a figura mitológica de Eros, o deus do amor, dos apetites sexuais, do instinto básico da vida e responsável pela atração entre os corpos. Eros era a força vital que impulsionava a vida. Dessa referência, surgiram as expressões zonas erógenas e erotismo.

Como toda ciência, a sexologia surgiu da filosofia. Ela tem uma interface com a neurociência, estudo do funcionamento do cérebro, a biologia, estudo das características gerais dos seres vivos, a sociologia, estudo objetivo das relações sociais, a antropologia, estudo das características socioculturais dos diversos grupos sociais, dando ênfase às diferenças e variações entre esses grupos, e a psicologia, estudo da análise de comportamentos.

Nos dias de hoje, a sexualidade é muito pouco estudada. Só na década de 1980, ela ganha evidência, e esse atraso é conseqüência do tabu que envolve a matéria, conseqüência da nossa formação religiosa cristã.

O assunto sexo está em moda na mídia. É um tema que dá ibope, pois tudo que é "proibido" e desconhecido ou sobre o qual sabemos pouco desperta interesse. Os programas televisivos sensacionalistas dão destaque ao assunto e, na maioria das vezes, não informam corretamente.

Quando o tema em pauta é homossexualidade, aí a confusão é geral. Travesti é confundido com homem gay, que é confundido com transexual, etc. A tendência das pessoas é resumir erroneamente todas as categorias sexuais, fora da heterossexualidade, com a palavra gay. Ela serve para generalizar todas as manifestações da homossexualidade. O gay, geralmente, é apresentado como uma pessoa que não é homem nem mulher ou uma pessoa feminina descaracterizada, como não sendo um homem. Ou, ainda, alguém com "alma de mulher". O subjetivismo vai por aí afora!

Veremos, a seguir, algumas categorias científicas da sexologia ligadas à homossexualidade. Elas são manifestadas em cada pessoa a partir de influências genéticas e ambientais:


sexualidade é um conjunto de sensações eróticas físicas e psicológicas. São sensações prazerosas oriundas de todos os órgãos dos sentidos e presentes em toda área física do corpo humano. A sexualidade se manifesta em todas as fases da vida, da primeira infância até o final da vida.

Sexo é o estado biológico de uma pessoa como homem, mulher ou indefinido. Dependendo das circunstâncias, esta determinação pode ser baseada na aparência da genitália ou no cariótipo (conjunto de cromossomos de um indivíduo). Ele é determinado geneticamente.

orientação sexual é a atração sexual da pessoa que é direcionada ao sexo anatômico de outra, ou seja, o seu objeto de desejo. Existem três: heterossexual, bissexual e homossexual. Saber como ocorre a determinação da orientação sexual de uma pessoa ainda é um desafio para a ciência. Não existe consenso científico. Como é exatamente este processo e em que período do desenvolvimento do organismo acontece é um mistério. Existem basicamente três opiniões divergentes sobre o assunto na comunidade científica. A orientação sexual é formada: 1ª. só pela determinação genética; 2ª. só pelo ambiente familiar e 3ª. pela determinação genética e pelo ambiente familiar.

Gênero é uma classe cuja extensão se divide em masculino e feminino. Cada uma com características distintas que determinam diferenciações sexuais e características psicológicas. É a base para identidade de gênero.

Identidade de gênero é a convicção íntima de uma pessoa de ser do gênero masculino (homem) ou do gênero feminino (mulher).

Papel de gênero são atitudes, padrões de comportamentos e atributos de personalidade definidos pela cultura na qual as pessoas vivem papéis estereotipadamente masculinos e femininos. O ambiente familiar e cultural irá moldar o papel de gênero.

gay é a pessoa homossexual que se sente atraída sexualmente por outra do mesmo sexo. No Dicionário Aurélio, encontramos a palavra já adaptada para o português grafada como guei, se referindo ao homem e à mulher homossexuais. No Brasil, a palavra gay, que é originária da língua inglesa, é usada, cada vez mais, para designar só o homem homossexual. A mulher homossexual é comumente chamada de lésbica.

Travesti é uma pessoa que usa roupas do sexo oposto, com o objetivo de obter excitação sexual e de criar a aparência de pessoa do sexo oposto. Modifica fisicamente o corpo através da aplicação de hormônios, silicone etc. O objetivo é ficar com o corpo próximo do corpo do sexo oposto. O travesti do gênero masculino não é indicado para cirurgia de transgenitalização, pois não apresenta conflito com sua identidade de gênero. Gosta do seu pênis e usa na relação sexual. São manifestações do travestismo fetichista, também, o chamado crossdresser, que são pessoas que se vestem ocasionalmente com roupas do sexo oposto, não modificando fisicamente o seu corpo.

Transexual é uma pessoa que tem o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Este desejo é acompanhado, em geral, de um sentimento de mal estar ou de inadaptação com referência a seu próprio sexo anatômico. Seu desejo é se submeter a uma intervenção cirúrgica e um tratamento hormonal a fim de tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo desejado. O transexual masculino MtF (male to female) ou masculino para feminino em português, é indicado para cirurgia de transgenitalização, pois apresenta conflito com sua identidade de gênero. Não gosta do seu pênis e não o usa na relação sexual. Nesse caso, a pessoa tem a convicção que é uma mulher total: sua identidade de gênero é feminina e seu papel de gênero é feminino. É necessário adequar o seu sexo anatômico masculino (pênis) para o sexo anatômico feminino, criando-se uma neovagina, por meio de uma cirurgia.

O transexualismo é classificado como uma disforia (inquietação e mal-estar provocado por ansiedade) quanto ao gênero, acompanhado pelo desejo persistente de ter as características físicas (sexo) e os papéis sociais (papel de gênero) do sexo biológico oposto. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), que é um manual diagnóstico referência para médicos e psicólogos, usa o termo transexualismo. Prefiro usar transexualidade.

Tanto o Manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) como o DSM-IV usam os termos travesti e transexual para classificar estas duas categorias descritas acima.



A palavra transgênero algumas vezes é usada incorretamente para denominar só travesti ou só transexual. O prefixo "trans" vem do latim que significa "através de". Devemos usar a palavra transgênero para denominar tanto o travesti como o transexual. Apesar de serem fenômenos distintos, os dois estão transitando através dos gêneros.

O homem travesti quer ficar no meio termo, numa posição dúbia com um corpo de mulher e com o pênis do homem. A ambigüidade faz parte do seu fetiche. Já o transexual MtF quer apagar todo e qualquer vestígio do corpo do homem, eliminado os símbolos de masculinidade, que são o pênis e os testículos – e, no seu lugar, colocar uma vagina. O transexual se sente totalmente mulher. A ambigüidade não existe para o transexual.


O travesti pode ser de masculino transitando para feminino ou vice-versa. O mesmo acontece com o transexual.



Alguns exemplos básicos para uma melhor compreensão da aplicabilidade

dessas categorias:



Exemplo 1:
Homem gay másculo
Sexo: masculino
orientação sexual: homossexual
Identidade de gênero: masculina
Papel de gênero: masculino





Exemplo 2:
Homem gay afeminado
Sexo: masculino
orientação sexual: homossexual
Identidade de gênero: masculina
Papel de gênero: masculino ou feminino

Exemplo 3:
Homem bissexual másculo
Sexo: masculino
orientação sexual: bissexual
Identidade de gênero: masculina
Papel de gênero: masculino


Exemplo 4:
Homem travesti
Sexo: masculino
orientação sexual: homossexual ou bissexual
Identidade de gênero: masculina
Papel de gênero: feminino


Exemplo 5:
Transexual masculino MtF
Sexo: masculino
orientação sexual: heterossexual (se sente mulher completamente e tem atração por um homem heterossexual), homossexual (se sente mulher completamente e tem atração por uma mulher homossexual) ou bissexual
Identidade de gênero: feminina
Papel de gênero: feminino



Como a manifestação sexual não é algo estático, e sim, dinâmico, outras combinações são possíveis. Os exemplos dados acima, que são um padrão,  podem apresentar exceções e particularidades, que são as subcategorias. Por exemplo, é possível um homem heterossexual másculo apresentar, ocasionalmente, a alteração do seu papel de gênero para feminino.

Utiliza a vestimenta de mulher para se excitar sexualmente e fazer sexo com sua parceira. Ele não é homossexual, mas tem esse fetiche. Existem muitas outras subcategorias.

Como continuamos nos adaptando constantemente aos ambientes sociais e à natureza, através do processo de seleção natural, novas formas de expressão da sexualidade aparecerão no futuro. Algumas já existentes poderão desaparecer, dependendo da sua adaptabilidade.

Os ambientes sociais se tornam cada vez mais complexos. Os humanos, com sua inteligência e criatividade, inventarão novas expressões de manifestação da sexualidade no futuro. Não temos a menor idéia de como serão.



João Batista Pedrosa
pedrosa@syntony.com.br

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